Sou professor há 20 anos. Comecei na docência em escolas estaduais e municipais da cidade de São Paulo, lecionando Biologia, área em que sou graduado. Na época, em 1997, nem graduado eu era. Aí, acabei sendo picado pelo "bichinho da docência" e me descobrindo professor. Passei por vários colégios particulares, lecionei em cursinhos pré vestibulares e supletivos, em programas de educação de jovens e adultos. Em 2005, quando estava fazendo uma pós graduação em Magistério do Ensino Superior, pela PUC-SP, recebi um convite para lecionar em uma universidade no estado do Espírito Santo, em uma pequena cidade chamada Cachoeiro do Itapemirim. Daí em diante, passei a lecionar em universidades e centros universitários. Atualmente, leciono em uma universidade da cidade de São Paulo.
Comecei este artigo, descrevendo minhas aventuras pela educação, não para me promover. Mas sim, para explicar a que atribuo minha escolha: a docência. Atribuo minha escolha ao amor pela educação. Ao amor e felicidade que sinto quando estou com meus alunos, participando com eles do processo ensino-aprendizagem. É indescritível a sensação de poder estar presente na vida de alguém, e as vezes, de forma imortal. Tenho certeza de que você tem a lembrança de algum professor que ficou em seu coração, com seus ensinamentos e valores, não é mesmo?
Nestes últimos 12 anos como docente, lecionando no ensino superior, percebi que o número de cursos e estudantes matriculados no ensino superior, quase que dobrou no Brasil. A revista Exame de setembro de 2014, afirmou que em uma década, o número de professores universitários cresceu 36%. Ou seja, o aumento de número de alunos matriculados, forçou a entrada de professores no ensino superior brasileiro. Mas quem são estes professores? Qual é o perfil do professor universitário brasileiro?
Em 2010, segundo o Ministério da Educação, 381 docentes de nível superior não tinham terminado a faculdade ainda! Em 2012, ou seja, dois anos depois, eram 93 profissionais nestas condições no país. Mas como e por que este fenômeno ocorreu? Professores universitários sem formação acadêmica adequada em pleno exercício da profissão? Isso ocorreu, dentre outros motivos, devido ao aumento da demanda por professores universitários, já que neste mesmo período, o número de alunos teve um incremento significativo.
A maioria dos professores doutores estão alocados em universidades públicas. Segundo a revista Exame (2014), ao todo, o Brasil possui pouco mais de 121 mil docentes com doutorado em suas instituições de ensino superior, sendo que, 70% deles trabalham nas universidades públicas. As universidades particulares abrigam apenas 38 mil profissionais doutores.
Um outro dado interessante que ressalta o perfil do professor universitário brasileiro está intimamente ligado ao mercado. Veja, do total de alunos universitários hoje, 75% a 80% estão matriculados em universidades particulares. Portanto, quase 60% dos docentes que lecionam em faculdades e universidades, estão na rede privada de educação superior. Não é pra menos. No Brasil, em 2013, existiam 2090 faculdades particulares contra 301 instituições públicas. Das 7,3 milhões de matrículas feitas no ano de 2013 no ensino superior, 5,3 milhões foram em faculdades e universidades privadas (Revista Exame, 2014). Devido a esta demanda de mercado, os professores universitários passaram a ter um perfil bem mais jovial, com menos experiência docente. Atualmente, alunos de mestrado e doutorado recém formados, acabam sendo absorvidos pelo mercado, muito mais facilmente que há 30 anos atrás.
Importante ressaltar também a formação pedagógica do professor universitário brasileiro, já que autores também enfatizam que ser um bom pesquisador não é garantia de uma formação didático-pedagógica necessária para a atividade de ensino (MASETTO, 2003; CUNHA, 2005; ALMEIDA & PIMENTA, 2009; PIMENTA & ANASTASIOU, 2010). Os programas de pós-graduação, em especial os stricto sensu, embora possam explicitar nos seus objetivos a preparação para docência, notadamente articulam-se na formação de pesquisadores para áreas especificas. Tanto é assim que, no conjunto das atividades oferecidas e requisitos dos programas, os estudos sobre a prática e o próprio exercício da docência ocupam espaço muito limitado (NUNES & SOUZA, 2007). Isto posto, a maioria dos doutores e mestres brasileiros, em plena atividade no Brasil, precisam de uma formação didático pedagógica mais apurada e prolongada em programas de pós graduação oferecidos.
Professores são agentes de transformação de uma sociedade através das pessoas. As pessoas são os componentes atuantes de uma sociedade. Quando um professor fala ou age, sua atitude e oratória irão ser lidos e reproduzidos por seus alunos, como o eco dentro de uma caverna, independentemente do nível de escolaridade. A formação docente é fundamental. Se um professor utilizar seu conhecimento para provocar discórdia e dor, seus alunos irão, de certa maneira, fazer algo semelhante. Se o professor tiver uma ação reflexiva em torno de sua práxis, seus alunos serão induzidos a fazer o mesmo. Um professor universitário bem formado, em sua área específica e pedagogicamente falando, irá influenciar de forma positiva seu aluno universitário, promovendo, a longo prazo, a formação de uma sociedade mais liberta e crítica.
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